18 Novembro 2024
Cascale Petroleiro Palhete 2021
A Cor da Tradição, o Sabor da Terra
Há vinhos que desafiam as convenções desde o primeiro olhar. O Cascale Petroleiro Palhete 2021 é um deles. Começa pela cor – incomum, quase poética, uma tonalidade que lembra o brilho opaco do petróleo nos candeeiros antigos. Mas o que verdadeiramente o distingue está no fundo da talha: uma ligação pura e direta à terra alentejana, ao saber antigo e ao tempo natural do vinho.
Origem: uma vinha com alma antiga
Produzido a partir de uma vinha conduzida em taça, com exposição aberta ao sol e ao vento, situada a 200 metros de altitude e a 100 km da costa atlântica, este vinho é um testemunho de como o Alentejo, quando bem interpretado, pode oferecer frescura e identidade mesmo em climas quentes.
As vinhas crescem sobre solos mediterrânicos de influência continental, com verões longos, secos e exigentes. A casta? Ou melhor, as castas: um field blend tradicional onde se misturam tintas e brancas numa só expressão:
Aragonez, Trincadeira, Tinta Grossa, Diagalves, Manteúdo, Antão Vaz, Síria e Perrum.
Uma vinha como se fazia antes. Um vinho que respeita isso até ao fim.
Vinificação: talha, silêncio e paciência
A vindima ocorreu na primeira semana de setembro, feita com precisão, mas sem pressa. As uvas foram desengaçadas e depois esmagadas diretamente dentro da talha de barro, onde a fermentação decorreu durante 12 dias, de forma natural, sem controlo de temperatura, sem correções.
Depois, a talha foi fechada, selada com tradição e confiança, e o vinho ali permaneceu durante cerca de 9 meses, em contacto com as massas, sem agitação, em infusão. Sem pressa. Sem maquilhagem.
Este é um vinho natural no verdadeiro sentido da palavra: feito com o mínimo de intervenção, mas com o máximo de atenção.
Leveza, textura e mineralidade
A cor, como o nome anuncia, é única: entre o âmbar avermelhado e o cobre rosado – “a cor do petróleo dos candeeiros”, como antigamente.
No nariz, o vinho é fresco e terroso, com notas de cereja ácida, resina, argila molhada e ervas secas. Há uma rusticidade elegante, um perfil aromático que remete à terra, ao barro e ao silêncio da talha.
Na boca, tem volume médio, taninos finos, acidez natural equilibrada e um final fresco e persistente, com apenas 12,5% de álcool – uma raridade no contexto alentejano. O vinho mantém-se leve, mas firme. Sério, mas acessível.
Autenticidade que liga com o fogo e a cura
O Cascale Petroleiro Palhete 2021 é um vinho para partilha. Liga com a cozinha de forno, enchidos, carnes brancas assadas, mas também com queijos de média cura, pratos de arroz e até vegetais assados com ervas.
É um vinho que gosta de fogo lento, de gordura moderada e de pratos com textura – que contrastem ou complementem a sua estrutura firme e seca.
Servir a 12ºC, de preferência decantado, mesmo que brevemente, para abrir aromas e arejar a textura.
Um vinho fiel à terra que o viu nascer
O Cascale Petroleiro Palhete 2021 não quer ser tudo para todos. Quer ser fiel ao seu lugar, ao seu tempo e à forma como foi feito.
É um vinho que recupera práticas ancestrais, sem folclore. Que se mostra sem filtros – literalmente – e que desafia quem o bebe a sair da zona de conforto e entrar num território de pureza, textura e silêncio.
Produzido desde 2019, com um potencial de envelhecimento de 15 anos, este vinho convida à curiosidade e à escuta. Não é para beber com pressa. É para acompanhar, como se acompanha uma história bem contada.
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Hélder Cunha Winemaker
A minha vida é o vinho.
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