Há vinhos que não nascem apenas da terra. Nascem também da persistência, da redescoberta e do olhar atento que vê valor onde outros veem rotina. O Monte Cascas Vinha da Carpanha Dão Tinto 2013 é um desses vinhos. Feito a partir de uma vinha esquecida, de um field blend de castas tradicionais do Dão e de um ano generoso, este tinto é uma expressão pura da região em estado cru e refinado.

A vinha: a Carpanha e o Sr. Francisco

A história deste vinho começa com um encontro. O de Hélder Cunha com o Sr. Francisco Lemos, antigo colaborador da Adega Cooperativa de Penalva do Castelo, e guardião de uma parcela de vinha velha que sempre entregou as suas uvas para vinhos anónimos, sem nome nem narrativa.

Mas esta vinha, a Vinha da Carpanha, escondia um potencial silencioso: castas misturadas (Jaen, Touriga Nacional, Rufete), plantadas sobre solos graníticos com filão de xisto, expostas ao sol e protegidas por um pequeno pinhal.

Ali, num equilíbrio entre rusticidade e frescura, nasceu o ponto de partida para um vinho de autor que hoje é referência dentro e fora da região.

2013: um ano de silêncio e concentração

O ano de 2013 não foi excessivo. Foi equilibrado. As chuvas do inverno garantiram reservas hídricas, o verão foi seco e com ondas de calor. O resultado foram bagos concentrados, com taninos firmes, boa acidez e uma frescura natural típica do Dão em altitude.

Mais um ano ideal para dar voz a esta vinha. E este vinho faz-se ouvir com respeito.

Vinificação: tradição e paciência

As uvas foram colhidas manualmente, pisadas a pé em lagar, e fermentadas com mínima intervenção, respeitando o perfil do terroir. Após a fermentação alcoólica e malolática, o vinho estagiou durante mais de 24 meses em barricas usadas de carvalho francês, onde ganhou textura, profundidade e complexidade aromática.

Este não é um vinho apressado. É um vinho que soube esperar. E que, ainda hoje, mais de uma década depois, continua a crescer em garrafa.

Notas de prova: frescura das serras com alma granítica

No copo, apresenta-se com cor granada de média concentração. O nariz é preciso e sedutor: bergamota, violeta seca, fruta preta, terra húmida e nuances balsâmicas. Com o tempo, surgem notas de floresta, especiarias subtis e um fundo mineral e terroso, muito típico dos solos com xisto do Dão.

Na boca, o vinho mostra-se firme mas elegante, com taninos finos e acidez vibrante, e um final longo, que pede mesa, tempo e silêncio. É um vinho que respeita o ritmo de quem o bebe – e recompensa quem o espera.

Um vinho que resgata, preserva e emociona

O Monte Cascas Vinha da Carpanha Dão Tinto 2013 é um vinho com história. Não apenas porque vem de uma vinha antiga, mas porque foi salvo do esquecimento e transformado em memória líquida. É um vinho que resgata o melhor do Dão: frescura, identidade, longevidade e uma elegância quase silenciosa.

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