18 Novembro 2024

Cabo da Roca Cabernet Sauvignon Grande Reserva 2016

Quando o Atlântico Molda um Clássico

Há vinhos que se explicam pelo lugar onde nascem. Outros, pelo tempo que levam a revelar-se. Mas há ainda aqueles que só se compreendem por ambos. O Cabo da Roca Cabernet Sauvignon Grande Reserva Lisboa IGP 2016 é um desses vinhos. Ele cruza um terroir atlântico improvável com uma casta internacionalmente consagrada e entrega uma versão portuguesa de rara complexidade, longe da exuberância fácil, perto da elegância contida.

É, acima de tudo, um vinho de guarda. E como todos os grandes vinhos que merecem tempo, este pede também um olhar atento e um paladar disponível para a descoberta.


A origem: Alenquer, onde o Atlântico tempera a força da vinha

O lugar onde este Cabernet nasce é crucial para o seu perfil: a zona de Alenquer, integrada na Região de Lisboa, é marcada por uma geografia irregular, protegida pela serra de Montejunto, mas ainda assim fortemente influenciada pela brisa atlântica. A vinha tem mais de 30 anos e está plantada a 135 metros de altitude, a 32 km do oceano. É uma vinha com história, enraizada em solos aluviais com presença calcária, conduzida com rigor e equilíbrio.

Estas condições não são óbvias para o Cabernet Sauvignon, uma casta que exige maturação completa para evitar taninos verdes ou rusticidade. No entanto, em 2016, as condições foram excecionais: o ciclo vegetativo foi longo, as noites mantiveram-se frescas e o verão foi equilibrado. O resultado foram uvas perfeitamente maduras, com estrutura, frescura e acidez preservada, ideal para criar um vinho com profundidade e longevidade.


A casta: Cabernet Sauvignon fora do seu habitat… e ainda assim notável

É fácil cair no cliché de que o Cabernet pertence a Bordeaux, Napa Valley ou Mendoza. Mas o que acontece quando lhe damos espaço num terroir de clima temperado, junto ao mar, com solo calcário?

A resposta está neste vinho: o Cabernet Sauvignon em Alenquer ganha definição sem excesso, corpo com frescura, tanino firme mas não rude. A fruta não é doce, mas madura. Não há sobrematuração, nem pimenta excessiva, nem madeira que se impõe. O vinho desenvolve-se com contenção e detalhe, revelando notas de groselha, ameixa preta, cereja escura, especiarias, cedro, tabaco e um fundo mineral e balsâmico.

Este perfil demonstra como a casta se adapta, não para imitar, mas para criar uma nova referência dentro do seu próprio ADN.


Vinificação: precisão, paciência e respeito pelo tempo

A vindima decorreu na 3.ª semana de setembro, com colheita mecânica, garantindo integridade da fruta na chegada à adega.

A fermentação alcoólica decorreu em inox, a temperaturas controladas, preservando os aromas primários e o equilíbrio natural. Mas é após essa fermentação que o tempo começa a moldar este vinho.

O estágio decorreu durante 18 meses em madeira de carvalho francês. Durante este período, o vinho foi ganhando volume, untuosidade e camadas aromáticas, sem nunca perder a acidez e a estrutura que garantem a sua longevidade. Foi filtrado e estabilizado antes do engarrafamento, assegurando clareza e estabilidade para envelhecimento.


A evolução na garrafa: o valor do tempo

Lançado em garrafa após o tempo necessário, o Cabo da Roca Cabernet Sauvignon 2016 é hoje um vinho que se encontra num momento ideal para começar a ser aberto, mas com mais de uma década de vida pela frente.

A estrutura está presente, mas domada. A fruta escura é envolvida por notas de cedro, caixa de charutos, terra húmida e um leve toque de trufa. Os taninos são finos, a acidez está viva, e o final de boca é longo, salino e refrescante, com um eco mineral que reforça a assinatura do terroir.

É um vinho que não procura ser exuberante à primeira prova. Ele conquista devagar. Ganha profundidade com o tempo no copo. E mostra-se melhor com pratos que pedem corpo e precisão.


Harmonização: um vinho com presença à mesa

Este é um tinto de mesa – no melhor sentido da expressão. Acompanha pratos com estrutura, proteína e tempo de confeção. Também pode ser simplesmente servido a solo, num momento de contemplação, leitura, ou partilha com quem entende que um vinho como este não se bebe com pressa.


Conclusão: um vinho com assinatura portuguesa e ambição internacional

O Cabo da Roca Cabernet Sauvignon Grande Reserva 2016 é, sem pretensões, um dos grandes Cabernets feitos em Portugal. Não por querer copiar modelos estrangeiros, mas por conseguir interpretar a casta à luz do nosso clima, do nosso solo e da nossa cultura.

É um vinho de precisão, profundidade e caráter. Feito para quem aprecia elegância com estrutura, longevidade com identidade e vinhos que se transformam com o tempo.

Se procuras um tinto sério, que respeita a origem e valoriza o tempo, então este vinho merece lugar na tua cave – e, sobretudo, no teu copo.

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Hélder Cunha Winemaker

A minha vida é o vinho.

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