Vinhos Tranquilos
30 de Novembro 2022
Vinhos tranquilos são os vinhos que não são efervescentes. A explicação do nome é tão simples quanto isso. Qualquer vinho é o resultado da transformação do açúcar natural existente no mosto de uvas, que por ação da fermentação se transforma em álcool ao mesmo tempo que é libertado dióxido de carbono.
Como a primeira fermentação se dá em ambiente aberto, o dióxido de carbono formado é naturalmente libertado para a atmosfera, não ficando nem dissolvido, nem preso no vinho, resultando um vinho tranquilo.
O que são Vinhos Tranquilos?
Vinhos tranquilos são, segundo as regras do Instituto da Vinha e do Vinho, o regulador da produção de vinho em Portugal, todos aqueles que têm menos do que 3g/L em concentração de dióxido de carbono e menos de 1 bar de sobrepressão.
Do outro lado, temos os vinhos que não são tranquilos, como o frisante gaseificado, o frisante, o espumante gaseificado e o famoso espumante, provenientes de fermentação apenas.
Características dos vinhos tranquilos
Os vinhos tranquilos têm características muito próprias. Avaliamos um vinho pela cor, pelas suas tonalidades e intensidades, pelos aromas frutados, herbais, florais, especiados, minerais, amadeirados, entre outros. Avaliamos também um vinho pelo sabor e textura em boca. Por todos estes caminhos, descobrimos um sem número de características das quais excluímos a bolha e sua reatividade e textura, pois nos vinhos tranquilos não temos dióxido de carbono.
No máximo, encontramos em alguns destes vinhos tranquilos o efeito agulha, que não é mais do que uma ligeira concentração de dióxido de carbono dissolvido. É o caso dos vinhos leves das regiões de Lisboa e do Vinho Verde. Já nos vinhos tranquilos do Douro, por exemplo, dificilmente aconteceria.
Tipos de Vinhos Tranquilos
Dentro dos vinhos tranquilos – todos os que têm menos do que 3g/L em concentração de dióxido de carbono e menos que 1 bar de sobrepressão -, encontramos três tipos distintos: vinho branco tranquilo, vinho rosé tranquilo e vinho tinto tranquilo. E dentro destes, encontramos todas as variações possíveis no estilo e na cor.
Vinho Rosé
O Vinho rosé tranquilo tem vindo a ganhar cada vez mais mercado e apreciadores. Se antes se dizia que vinho rosé não é vinho, hoje tudo está a mudar. Este é um dos tipos de vinho que cresce ano após ano. Este tipo de vinho pode ser resultado de duas formas do enólogo trabalhar as uvas tintas.
Podemos fazer vinho rosé tranquilo a partir da “sangria” de uvas com destino a vinho tranquilo tinto, concentrando este último e resultando o rosé apenas da “lágrima” das uvas tintas. Em alternativa, podemos fazer rosé de prensagem direta, como se de um vinho branco se tratasse. Mas como na verdade prensamos uvas tintas, a cor que existe nas cascas da uva vem sempre refletida no sumo.
Vinho Branco
O vinho branco tranquilo resulta da prensagem de uvas brancas à chegada à adega, de forma a ser retirado todo o sumo ou mosto, como se diz em enologia, para posteriormente ser decantado e passado a limpo, para que a fermentação se dê já num mosto limpo, permitindo obter uma fermentação aromaticamente rica.
No entanto, o enólogo tem várias opções possíveis, de forma a potenciar alguma característica do vinho.
Existem inúmeros estilos de vinho branco tranquilo, até mesmo vinhos cujas uvas brancas se processam como se o objetivo fosse fazer um vinho tinto. Chamamos a estes brancos vinhos de curtimenta ou laranjas.
Vinho Tinto
O vinho tinto tranquilo é, de todos, o mais comum dos tranquilos, uma vez que há poucos vinhos espumantes tintos, no mundo. O vinho tinto é o resultado da fermentação de mosto de uvas tintas que passam por um processo de curtimenta ou maceração.
Uma vez que a cor e os taninos existem na casca da uva, a maceração do sumo da uva com as suas cascas é o segredo dos vinhos tintos. Esta curtimenta ou maceração tanto pode demorar poucos dias como pode perdurar por meses. O resultado é, claro, sempre diferente, criando vinhos de todos os estilos imagináveis.
Vinho Laranja
O vinho laranja, na verdade, não existe. É um estilo de vinho branco tranquilo, no qual o enólogo decide cuidar das uvas brancas como de tintas se tratassem e daí que a cor e a estrutura destes vinhos brancos mudem radicalmente, quando comparados com os vinhos brancos tradicionais. São técnicas de vinificação muito antigas que caíram em desuso e que voltaram à ribalta nestes últimos anos. Se nunca provou, não perca, mas mantenha a mente aberta, pois os aromas e sabores não são os de um branco normal.
Portugal é um país rico em aromas e sabores, mas nada como o vinho concentra tão bem a nossa essência.
O país apresenta um vasto universo de vinhos tranquilos nacionais e é um dos maiores produtores e exportadores de vinho do mundo. E são precisamente os vinhos tranquilos que sustentam o crescimento global do sector, logo, as exportações.
Hélder Cunha Winemaker
A minha vida é o vinho.
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