Se o Arinto é o Hock Português, o que é o Hoch Alemão?

11 de Abril 2019

Nem de propósito. Eu no post da semana passada a falar dos famosos vinhos Hock… e volto a cruzar-me com o tema no sábado passado, na festa de aniversário de 40 anos do meu amigo Rodolfo Tristão. O Rodolfo é, sem dúvida, um dos melhores Sommeliers de Portugal. E como não podia deixar de ser, a festa foi um verdadeiro festim de vinhos especiais, onde não faltou um Riesling, a casta base dos vinhos de Hochheim am Main na região de Rheingau – Alemanha, que deram o nome a este estilo de vinho proveniente deste país.

O vinho que provei, na verdade, nem era Alemão. Era Francês, proveniente da Alsácia, um Trimbach da colheita de 2008. Era um vinho sério, ainda cheio de energia e um bom exemplo dos Riesling da Alsácia, que são bem diferentes dos Riesling Alemães. Esta casta – que cedo ganhou fama de alta qualidade – é a rainha das castas brancas na Alemanha.

Recuando às origens deste vinho, encontramos em 1435 o registo de um conde de Russelheim em Rheingau que refere a compra de Riesling para plantar junto à sua casa. Um pouco mais tarde, há referências à casta na região de Mosel, a minha preferida de vinhos Riesling. Em 1648, depois da Guerra dos Trinta Anos, a Alsácia é cedida pela Alemanha a França e, com as vinhas completamente destruídas, é dada ordem de plantio de Riesling em substituição de castas de menor qualidade. Já em 1787, no Vale de Mosel, Clemens Wenzeslaus decretou a remoção de castas de menor qualidade deste vale para serem plantadas castas mais nobres, o que facilitou a ascenção da Riesling e que confirmou a aposta certa na casta.

Os vinhos de Riesling são, de uma forma geral, um tributo ao Terroir onde ela está plantada. Há poucas castas que consigam exprimir melhor o local, clima e cultivo como esta. Também há poucas que tenham uma acidez tão alta, com notas tão agradáveis e que, ao mesmo tempo, tenham um potencial de envelhecimento tão grande. São todos estes atributos que a tornam especial e que a fizeram espalhar-se pelo mundo.

Em Portugal, há muito poucos bons exemplos da casta e os mais interessantes estão em zonas com bastante influência Atlântica ou em altitudes acima dos 600 metros. A Riesling – que é de amadurecimento precoce – torna-se desinteressante quando em zonas quentes, pois perde a sua acidez refrescante, elegância e consequente potencial de envelhecimento, ou seja, os seus melhores atributos.

Aqui fica mais uma dica de um vinho que vale a pena conhecer. E quando acontecer, vai lembrar-se do que aqui leu.

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Hélder Cunha Winemaker

A minha vida é o vinho.

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