18 Novembro 2024

Monte Cascas Vinha do Quinto Bairrada DOC Tinto 2016

A Profundidade Silenciosa da Bairrada

A Bairrada tem o seu próprio tempo. O tempo da vinha velha, do nevoeiro, do calcário, das castas que amadurecem lentamente. O Monte Cascas Vinha do Quinto 2016 nasce nesse compasso – e é, acima de tudo, um vinho de silêncio, de precisão e de origem.

Feito a partir de uma vinha esquecida, resgatada pela mão certa, este vinho representa o lado mais autêntico e puro da Bairrada. Com a casta Baga em destaque – na sua versão ancestral, muitas vezes chamada Poeirinho – este vinho não se rende à pressa. Pede tempo. E oferece profundidade.


A vinha: o Quinto do Sr. Vidal

A Vinha do Quinto, localizada em Cordinhã – Cantanhede, chegou a ser, durante décadas, mais uma entre tantas fornecedoras de uvas para a cooperativa. Mas escondia uma preciosidade: uma plantação antiga, em condução baixa em taça, com cepas retorcidas, de castas tintas misturadas, dominadas por uma Baga antiga e expressiva, num solo de argila calcária coberto por pedras brancas.

Quando encontrámos esta vinha – com o apoio do Sr. Vidal, guardião local do conhecimento e da poda tradicional – percebemos de imediato o potencial escondido. E decidimos dar-lhe voz. Mas não uma voz imponente. Uma voz contida, que vai crescendo com o tempo.


2016: um ano que permitiu esperar

O ano de 2016 revelou-se perfeito para este tipo de abordagem. Maturações lentas, tempo seco na vindima, fruta equilibrada, taninos formados e acidez firme. A colheita foi feita à mão, respeitando a maturação gradual de cada parcela da vinha, e sem pressa.

Neste vinho não se procurou volume, cor ou impacto imediato. Procurou-se equilíbrio, estrutura e longevidade.


Vinificação: tradição bairradina com mãos firmes

As uvas foram pisadas a pé, à moda antiga, e a fermentação decorreu em lagares abertos, sem adições desnecessárias. O estágio fez-se em barricas usadas de carvalho francês durante 36 meses, permitindo ao vinho ganhar corpo, afinar os taninos e integrar naturalmente as suas arestas.

Não foi filtrado nem estabilizado de forma agressiva. O objetivo era manter a verdade da vinha – mesmo que essa verdade não seja redonda, mas vibrante, com texturas, ângulos e frescura.


Notas de prova: acidez viva, tanino fino, elegância calcária

O Monte Cascas Vinha do Quinto 2016 tem uma cor rubi delicada, translúcida, a lembrar grandes vinhos clássicos de outras latitudes.

No nariz, surgem frutos vermelhos frescos, notas de chá preto, ervas secas, terra húmida e ligeira resina. A madeira está perfeitamente integrada, e o perfil é austero mas expressivo, com notas que evoluem a cada minuto no copo.

Na boca, o vinho é tenso, seco, de tanino fino e persistente, com uma acidez que se impõe sem agredir. O final é longo, salino, e deixa a sensação de pureza e mineralidade que só os solos calcários sabem oferecer.


Conclusão: um vinho que resgata a dignidade da vinha velha

O Monte Cascas Vinha do Quinto 2016 não é um vinho de impacto imediato. É um vinho de reflexão, de textura e de camadas, que cresce no copo e na memória.

Representa a capacidade de ouvir o terroir da Bairrada, sem impor-lhe nada – apenas acompanhando-o até que se revele, com o tempo, com o silêncio, com a profundidade dos vinhos que não precisam de gritar para serem lembrados.

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Hélder Cunha Winemaker

A minha vida é o vinho.

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